Especialistas apontam regulação como impulso para stablecoins no Brasil
Criadas há mais de dez anos, as stablecoins começaram como uma solução focada no universo das criptomoedas, mas hoje já estão se firmando como opções viáveis para pagamentos internacionais. Elas estão entrando em competição direta com o sistema SWIFT, que é conhecido por ser lento e caro.
E o crescimento delas tem sido realmente impressionante. No último ano, as stablecoins movimentaram mais dinheiro do que a própria Visa. Durante o evento Digital Assets Summit (DAC), Fabrício Tota, diretor de Novos Negócios do MB, destacou que, apenas nos primeiros meses deste ano, as transações com stablecoins fora das exchanges já somaram quase US$ 100 bilhões. Isso mostra que as pessoas estão usando esses ativos de maneira bem prática no dia a dia.
Sofia Duesberg, que é a gerente-geral regional da Conduit, acredita que essa adesão crescente se deve ao entendimento dos benefícios que as stablecoins oferecem. Ela explica que esses ativos facilitam pagamentos internacionais. Por exemplo, você pode fazer uma transferência para Cingapura instantaneamente, a qualquer momento, já que o mercado nunca fecha. Além disso, a ausência de intermediários ajuda a reduzir custos consideravelmente.
Duesberg também aponta que as stablecoins não vão eliminar completamente os sistemas de pagamento que já conhecemos, mas sim integrá-los de uma nova forma, criando o que ela chama de “stablecoin sandwich”. Imagine uma empresa brasileira que precisa fazer um pagamento para a Europa: ela pode transferir os reais pelo Pix, converter em stablecoin e, em seguida, usar um sistema de pagamento local lá fora, como o SEPA na Europa, para concluir a transação.
Esse tipo de ativo digital tem uma atração especial para pessoas em países emergentes, como Argentina, Venezuela e Cuba, que enfrentam problemas com a desvalorização de suas moedas. Jefferson Bergamo, da BitGo, contou que nesse contexto, as stablecoins são vistas como uma forma de proteger o poder de compra. As pessoas trocam suas moedas locais por stablecoins atreladas ao dólar, permitindo também o envio e recebimento de pagamentos internacionais com taxas bem menores do que as praticadas pelos bancos.
No Brasil, a situação é um pouco diferente. Aqui, muita gente busca usar stablecoins para dolarizar seus investimentos e proteger seu patrimônio, ao mesmo tempo em que busca opções de investimento no exterior. É de se notar que a combinação desses fatores torna as stablecoins uma ferramenta poderosa para aqueles que querem garantir sua renda e ainda investir em oportunidades no exterior.
Para onde vão as stablecoins?
Apesar do crescimento, o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer para fortalecer o uso das stablecoins. A principal demanda do setor é a regulação. Enquanto os Estados Unidos e a Europa já avançaram com suas legislações, o Brasil também está prestes a definir regras claras para esse mercado.
“Sofia Duesberg frisou que, para investidores institucionais, confiança é fundamental”. Para que esses investidores se sintam seguros, é preciso ter uma infraestrutura sólida, com regras claras e alta segurança. Contudo, Bergamo ressalta que não é só a regulação que importa; também é necessário garantir que os serviços oferecidos estão cumprindo as normas e exigências financeiras, como auditorias e certificações adequadas.
Os especialistas concordam que o futuro desse setor não vai envolver apenas um tipo de ativo, mas sim uma convivência entre várias opções. No cenário ideal, as stablecoins lastreadas em diferentes moedas, como o real, podem se integrar às já estabelecidas globalmente, ampliando assim as possibilidades tecnológicas e financeiras.